Floraí
Floraí
Paraná - PR
Histórico
Para se ter uma compreensão melhor da história e da ocupação do Município de Floraí, torna-se necessário discorrer um pouco sobre a ocupação do norte do Paraná, pois há de se considerar os antecedentes engajados nesta causa.
Em 1924, a convite do governo brasileiro, veio ao país a chamada Missão Montagu, que foi organizada por grandes grupos financeiros, industriais e comerciais da Grã-Bretanha, em busca de oportunidades de investimentos na produção e comercialização de matérias-primas, tanto para a indústria britânica quanto para o comércio internacional. Um dos membros desta expedição, Simon Lovat, visitou o norte do Paraná e, impressionado com a fertilidade das terras, adquiriu algumas glebas com o objetivo de produzir algodão.
Essa primeira experiência fracassou, mas o grupo se reorganizou criando a Empresa Paraná Plantations Ltda, destinada à venda de lotes, cujas operações, no Brasil, ficaram a cargo de uma subsidiária, a Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná - CMNP, criada em 1925.
Esta Companhia adquiriu do governo estadual cinco glebas contínuas, situadas entre os rios Tibagi, Paranapoema e o Médio Ivaí. Toda essa área ainda estava recoberta pela floresta pluvial-tropical original, e a sua ocupação e extração econômica foram realizadas de modo incipiente, principalmente pelas dificuldades de acesso aos portos, e destes aos grandes centros consumidores.
A ligação ferroviária do Norte do Paraná com São Paulo, por exemplo, dava-se pela Estrada de Ferro São Paulo-Paraná, que, através da cidade de Ourinhos, chegava até Cambará. A CMNP assume a ferrovia, e inicia sua expansão até suas glebas, além do Paranapanema, no Paraná, chegando a Londrina em 1935, e Apucarana em 1937. No final da década de 1940, a ferrovia, que então fora encampada pelo governo federal, chegava com seus trilhos à Maringá.
Maringá havia sido elevada a categoria de distrito, em 1947, ano que foi criado o Município de Mandaguari, desmembrado de Apucarana, que poucos anos antes havia sido desmembrado de Londrina. O novo município incluía toda a parte meridional da região atual, entre o Ivaí e o Pirapó, locais onde poucos anos mais tarde iriam ser criados vários outros municípios, entre eles Floraí.
As primeiras terras comercializadas pela CMNP no Município de Floraí datam do ano de 1946, e foram adquiridas pelos senhores Sérgio Cardoso de Almeida, Antenor Martins e José de Luca. (SFORDI, 2003). O lote adquirido pelo senhor José de Luca representa o local onde hoje se encontra instalada a sede do município. A esta propriedade, o senhor José de Luca deu o nome de fazenda Santa Flor. Segundo narrativas dos pioneiros, o proprietário e sua família instalaram-se nestas terras por volta de 1949. Ocuparam a área próxima a uma nascente, residindo em barracas de lona. Com a chegada de novas famílias, iniciaram-se os trabalhos de derrubada da mata, para dar início à construção de uma estrada, que ligaria a Fazenda Santa Flor (o Município de Floraí) até Yroi (atual Município de Presidente Castelo Branco).
No entanto podemos considerar que em Floraí houve duas frentes de expansão pois, também em 1949, entraram no município algumas famílias provenientes da Fazenda Paranhos, na estrada divisora com o Município de São Carlos do Ivaí. Esta fazenda havia sido instalada na divisa das possessões da CMNP e da Companhia Brasileira de Aviação Comercial - BRAVIACO - às margens do Ribeirão Esperança. A partir dali, aproveitando a picada aberta pela Fazenda Paranhos até Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, alguns pioneiros que adquiriram lotes da CMNP, vieram instalar-se em suas terras em Floraí. Não demorou muito para que estas duas frentes se encontrassem, pois os pioneiros iam derrubando o mato e alargando os caminhos e picadas feitas por eles para chegarem até seus lotes, dando passagem aos caminhões e carroças lotados com víveres e utensílios domésticos.
A narrativa dos pioneiros que vivenciaram essa época é impressionante. Segundo as narrativas, em suas cidades de origem, os agricultores ficavam sabendo que as terras do Norte do Paraná eram férteis e fáceis de adquirir. As informações eram fornecidas pelos corretores, que percorriam principalmente os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, além de outras partes do Brasil. No final dos anos 1940, chegavam lotações, principalmente caminhonetes, praticamente todos os dias, trazendo entre 10 e 12 pessoas cada, que vinham conhecer as terras da região. As terras desta região deixavam estas pessoas deslumbradas com sua fertilidade e topografia.
A aquisição das terras era feita diretamente com os corretores. Era muito comum os negócios serem fechados dentro da casa do agricultor, na presença da família, e normalmente com um contrato de compra e venda, onde o agricultor dava uma entrada em dinheiro e o restante em parcelas anuais. Os contratos não eram registrados, porém recebiam um selo e, após o pagamento da última parcela, os agricultores recebiam as escrituras definitivas emitidas pela CMNP. No contrato de compra e venda, existia uma cláusula que resguardava à CMNP ou ao Estado o direito de construção de uma estrada de ferro e rodovias.
Segundo relato dos primeiros habitantes, suas viagens de mudança para o município eram verdadeiras aventuras. Marques (1994), em seu livro 'Vidas Interligadas', narra as lembranças desse tempo:
'Os Vizinhos diziam à minha mãe que estávamos ficando loucos, o Paraná era o último! As águas eram vermelhas, que os mosquitos iam nos devorar, que as feridas bravas comiam as pessoas, lugar de desordeiros e bandidos...' (p. 78).
Um outro pioneiro, o Sr. Valmir Silva (informação oral), narrando sua história disse que ainda criança deixou o Estado do Rio de Janeiro e viajou com seus irmãos pequenos por muitos dias, dormindo em estações de trem e rodoviárias até chegar a uma pequena cidade, muito empoeirada, de terra escura, calor sufocante, grande movimento de animais de trabalho, carroças, carros, jardineira. Esse local mais tarde seria Maringá, ali passou alguns dias, com toda a família, seus irmãos, pai e mãe amontoados num cômodo de hotel. Depois seguiu viagem para um local chamado Fazenda Brasileira, hoje a cidade de Paranavaí. Esta viagem foi feita de ônibus com carroceria de madeira, sem janelas laterais e com grande número de pessoas. Lembra-se o narrador que saíram de manhã e só chegaram no seu destino ao entardecer, calculando desta forma que a viagem de Maringá a Paranavaí durou em torno de 10 horas. Passaram a noite em cima das malas e no outro dia de manhã seguiram viagem a cavalo em direção a Fazenda Paranhos, aonde só chegaram ao entardecer, levando pelo menos 12 horas para percorrer uma distancia de 40 km aproximadamente. Lembra-se ele que em muitos lugares os homens 'apeava' de seus cavalos para limpar a estrada de galhos e troncos caídos. Da Fazenda Paranhos atravessou a Estrada Divisora e fixou residência no Município de Floraí.
Cabe ressaltar neste pequeno histórico, o importante papel das mulheres na colonização e desenvolvimento de Floraí, seu trabalho começava desde os preparativos que antecediam a viagem em seu local de origem, preparando o necessário para começar a nova vida. Já assentadas em seu local de destino, ainda com poucos vizinhos, a vida para essas mulheres não era fácil. Dona Wanda Maria Hillem de Lucca, narrando sua rotina de trabalho, contou que as mulheres levantavam muito cedo, tiravam água do poço para abastecer todos os reservatórios da casa, davam de beber e tratavam dos animais domésticos, tiravam leite, cultivavam a horta, teciam e costuravam a roupa, preparavam as refeições e levavam até o roçado, e terminavam o dia ajudando no cultivo das lavouras. A noite, após um dia de muito trabalho, ainda se punham a preparar algumas tarefas para o dia seguinte.
Ao chegarem em Floraí os agricultores montavam ranchos cobertos com encerados, nas proximidades de uma nascente ou ribeirão. A partir daí contratavam os 'Gatos' para efetuarem a derrubada, primeiro cortavam a capoeira com árvores finas, cipós, arbustos, depois, com machados e trançadeiras derrubavam a madeira mais grossa. As vezes, eram necessários quatro homens para derrubar uma única árvore. O desmatamento dos lotes iniciava-se pelas cabeceiras, entrando lotes adentro, em direção ao manancial hibrico.
Nos solos originados do basalto predominavam a peroba, figueira, cedro-rosa, canela, cabreuva, guajuvinha, marfim, canafistula, gurucaia, pau d'alho e o palmito, entre outros. Nas terras originadas do arenito, a vegetação predominante era a canjerana, guarita, coqueiro, taquara, pindaíva, maçaranduba, ingazeiro, entre outros. Nos primeiros anos não havia serraria que comprasse as madeiras, com isso, logo após a derrubada, ateavam fogo para fazer a queimada. Somente três a quatro anos depois dos primeiros habitantes, chegaram a Floraí as primeiras serrarias, que passaram então a comprar a madeira. Como a matéria-prima era abundante, os serralheiros só compravam toras com mais de 40 cm de diâmetro e davam preferência para a peroba, o cedro, a gurucaia e a canafistula. Praticamente todas as casas erguidas no município eram construídas com essas madeiras.]
No ano de 1958, segundo os pioneiros, praticamente já não havia mata em Floraí, restando apenas algumas capoeiras e pequenas áreas isoladas em algumas propriedades. Naquela época não havia nenhum tipo de preocupação ambiental, sendo que o próprio governo colaborava para que a devastação fosse grande, cobrando imposto de quem não derrubasse a mata. Nem as margens e as proximidades de nascentes, e margens de ribeirões eram poupadas, sendo comum empurrar troncos e galhos para dentro dos cursos d'água.
Se a flora era abundante, a fauna também era muito rica e variada,. Entre os espécimes que aqui viviam predominavam os macacos, veados, catetos, antas, cachorro do mato, quati, onça, capivara, paca; e entre os pássaros, o jacu, a arara, o papagaio entre outros.
Após a derrubada ateava-se fogo quando os galhos e folhas caídos já estavam secos, sendo necessário depois da queimada fazer 'descoivara', um trabalho árduo e estafante, que consistia em amontoar em leiras as galhadas. Depois deste trabalho os agricultores preparavam as covas e semeavam o café, normalmente de sete a oito sementes por cova, com espaçamento de 18 x 18 palmos, a uma profundidade de 40 cm. As sementes começavam a germinar aos 60 dias após a semeadura, e este período coincidia com a época mais quente do ano, tornando-se necessário fazer a cobertura da planta jovem com lascas de madeira retiradas dos troncos das árvores caídas. Todos os pioneiros se emocionaram ao narrar estes detalhes, e foram unânimes em afirmar que esta foi a época mais difícil de suas vidas. Nestes tempos, suas peles ficavam queimadas pelo sol, suas mãos ficavam rachadas e grossas. Muitas mulheres e crianças que também trabalhavam nestas tarefas ficavam doentes, as pessoas emagreciam, e muitas vidas não resistiam e não viveram para ver a transformação extraordinária desta região.
Os agricultores empenhavam praticamente toda sua economia na compra dos lotes, o pouco que sobrava logo chegava ao fim, e como o retorno do cultivo do café era demorado, sem rendimento eles se viam obrigados a comprar mercadorias, insumos, remédios a prazo, com os comerciantes locais, fazendo dívidas que levariam anos para serem pagas.
Os primeiros cafezais produtivos do Município de Floraí datam do ano de 1952, e por quase três decadas seguintes foram responsáveis pelo apogeu do desenvolvimento local. Foi neste período que Floraí recebeu seu maior fluxo migratório, conforme comprovam os dados censitários.
O golpe veio com a geada de 1975, sem os estímulos governamentais de antes, a cafeicultura entrou em queda, incapaz de se recuperar. Começava nesta época um novo processo de profundas mudanças no município e região, alterando completamente o perfil social e econômico regional, com queda significativa da população dos pequenos municípios, e com significativo êxodo rural, passando a região a ser predominantemente urbana, com o aumento da população nos centros maiores como Maringá, Umuarama, Londrina, Paranavaí, Apucarana. Neste período de mudanças, a soja gradativamente passa a ser a principal cultura do município, o que não só permitiu reduzir os efeitos negativos da crise da cafeicultura, como atualmente vem demonstrando sua alta capacidade de adaptação às mudanças e necessidades do mercado mundial. No inicio da atividade, a soja substituiu o café nas áreas mais férteis do município, naqueles solos originados do basalto, enquanto a área ocupada com solos originados do arenito, a cafeicultura foi sendo substituída por diversas outras atividades, como a bovinocultura de leite e corte, a sericicultura, a suinocultura, a avicultura de postura e corte, o plantio de laranja, algodão, milho, mandioca e algumas atividades de subsistência como o cultivo de arroz e feijão.
Gentílico:
Formação Administrativa
Pela Lei nº 2512, de 28 de novembro de 1955, é criado o Município de Floraí, desmembrado do Município de Nova Esperança.
Paraná - PR
Histórico
Para se ter uma compreensão melhor da história e da ocupação do Município de Floraí, torna-se necessário discorrer um pouco sobre a ocupação do norte do Paraná, pois há de se considerar os antecedentes engajados nesta causa.
Em 1924, a convite do governo brasileiro, veio ao país a chamada Missão Montagu, que foi organizada por grandes grupos financeiros, industriais e comerciais da Grã-Bretanha, em busca de oportunidades de investimentos na produção e comercialização de matérias-primas, tanto para a indústria britânica quanto para o comércio internacional. Um dos membros desta expedição, Simon Lovat, visitou o norte do Paraná e, impressionado com a fertilidade das terras, adquiriu algumas glebas com o objetivo de produzir algodão.
Essa primeira experiência fracassou, mas o grupo se reorganizou criando a Empresa Paraná Plantations Ltda, destinada à venda de lotes, cujas operações, no Brasil, ficaram a cargo de uma subsidiária, a Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná - CMNP, criada em 1925.
Esta Companhia adquiriu do governo estadual cinco glebas contínuas, situadas entre os rios Tibagi, Paranapoema e o Médio Ivaí. Toda essa área ainda estava recoberta pela floresta pluvial-tropical original, e a sua ocupação e extração econômica foram realizadas de modo incipiente, principalmente pelas dificuldades de acesso aos portos, e destes aos grandes centros consumidores.
A ligação ferroviária do Norte do Paraná com São Paulo, por exemplo, dava-se pela Estrada de Ferro São Paulo-Paraná, que, através da cidade de Ourinhos, chegava até Cambará. A CMNP assume a ferrovia, e inicia sua expansão até suas glebas, além do Paranapanema, no Paraná, chegando a Londrina em 1935, e Apucarana em 1937. No final da década de 1940, a ferrovia, que então fora encampada pelo governo federal, chegava com seus trilhos à Maringá.
Maringá havia sido elevada a categoria de distrito, em 1947, ano que foi criado o Município de Mandaguari, desmembrado de Apucarana, que poucos anos antes havia sido desmembrado de Londrina. O novo município incluía toda a parte meridional da região atual, entre o Ivaí e o Pirapó, locais onde poucos anos mais tarde iriam ser criados vários outros municípios, entre eles Floraí.
As primeiras terras comercializadas pela CMNP no Município de Floraí datam do ano de 1946, e foram adquiridas pelos senhores Sérgio Cardoso de Almeida, Antenor Martins e José de Luca. (SFORDI, 2003). O lote adquirido pelo senhor José de Luca representa o local onde hoje se encontra instalada a sede do município. A esta propriedade, o senhor José de Luca deu o nome de fazenda Santa Flor. Segundo narrativas dos pioneiros, o proprietário e sua família instalaram-se nestas terras por volta de 1949. Ocuparam a área próxima a uma nascente, residindo em barracas de lona. Com a chegada de novas famílias, iniciaram-se os trabalhos de derrubada da mata, para dar início à construção de uma estrada, que ligaria a Fazenda Santa Flor (o Município de Floraí) até Yroi (atual Município de Presidente Castelo Branco).
No entanto podemos considerar que em Floraí houve duas frentes de expansão pois, também em 1949, entraram no município algumas famílias provenientes da Fazenda Paranhos, na estrada divisora com o Município de São Carlos do Ivaí. Esta fazenda havia sido instalada na divisa das possessões da CMNP e da Companhia Brasileira de Aviação Comercial - BRAVIACO - às margens do Ribeirão Esperança. A partir dali, aproveitando a picada aberta pela Fazenda Paranhos até Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, alguns pioneiros que adquiriram lotes da CMNP, vieram instalar-se em suas terras em Floraí. Não demorou muito para que estas duas frentes se encontrassem, pois os pioneiros iam derrubando o mato e alargando os caminhos e picadas feitas por eles para chegarem até seus lotes, dando passagem aos caminhões e carroças lotados com víveres e utensílios domésticos.
A narrativa dos pioneiros que vivenciaram essa época é impressionante. Segundo as narrativas, em suas cidades de origem, os agricultores ficavam sabendo que as terras do Norte do Paraná eram férteis e fáceis de adquirir. As informações eram fornecidas pelos corretores, que percorriam principalmente os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, além de outras partes do Brasil. No final dos anos 1940, chegavam lotações, principalmente caminhonetes, praticamente todos os dias, trazendo entre 10 e 12 pessoas cada, que vinham conhecer as terras da região. As terras desta região deixavam estas pessoas deslumbradas com sua fertilidade e topografia.
A aquisição das terras era feita diretamente com os corretores. Era muito comum os negócios serem fechados dentro da casa do agricultor, na presença da família, e normalmente com um contrato de compra e venda, onde o agricultor dava uma entrada em dinheiro e o restante em parcelas anuais. Os contratos não eram registrados, porém recebiam um selo e, após o pagamento da última parcela, os agricultores recebiam as escrituras definitivas emitidas pela CMNP. No contrato de compra e venda, existia uma cláusula que resguardava à CMNP ou ao Estado o direito de construção de uma estrada de ferro e rodovias.
Segundo relato dos primeiros habitantes, suas viagens de mudança para o município eram verdadeiras aventuras. Marques (1994), em seu livro 'Vidas Interligadas', narra as lembranças desse tempo:
'Os Vizinhos diziam à minha mãe que estávamos ficando loucos, o Paraná era o último! As águas eram vermelhas, que os mosquitos iam nos devorar, que as feridas bravas comiam as pessoas, lugar de desordeiros e bandidos...' (p. 78).
Um outro pioneiro, o Sr. Valmir Silva (informação oral), narrando sua história disse que ainda criança deixou o Estado do Rio de Janeiro e viajou com seus irmãos pequenos por muitos dias, dormindo em estações de trem e rodoviárias até chegar a uma pequena cidade, muito empoeirada, de terra escura, calor sufocante, grande movimento de animais de trabalho, carroças, carros, jardineira. Esse local mais tarde seria Maringá, ali passou alguns dias, com toda a família, seus irmãos, pai e mãe amontoados num cômodo de hotel. Depois seguiu viagem para um local chamado Fazenda Brasileira, hoje a cidade de Paranavaí. Esta viagem foi feita de ônibus com carroceria de madeira, sem janelas laterais e com grande número de pessoas. Lembra-se o narrador que saíram de manhã e só chegaram no seu destino ao entardecer, calculando desta forma que a viagem de Maringá a Paranavaí durou em torno de 10 horas. Passaram a noite em cima das malas e no outro dia de manhã seguiram viagem a cavalo em direção a Fazenda Paranhos, aonde só chegaram ao entardecer, levando pelo menos 12 horas para percorrer uma distancia de 40 km aproximadamente. Lembra-se ele que em muitos lugares os homens 'apeava' de seus cavalos para limpar a estrada de galhos e troncos caídos. Da Fazenda Paranhos atravessou a Estrada Divisora e fixou residência no Município de Floraí.
Cabe ressaltar neste pequeno histórico, o importante papel das mulheres na colonização e desenvolvimento de Floraí, seu trabalho começava desde os preparativos que antecediam a viagem em seu local de origem, preparando o necessário para começar a nova vida. Já assentadas em seu local de destino, ainda com poucos vizinhos, a vida para essas mulheres não era fácil. Dona Wanda Maria Hillem de Lucca, narrando sua rotina de trabalho, contou que as mulheres levantavam muito cedo, tiravam água do poço para abastecer todos os reservatórios da casa, davam de beber e tratavam dos animais domésticos, tiravam leite, cultivavam a horta, teciam e costuravam a roupa, preparavam as refeições e levavam até o roçado, e terminavam o dia ajudando no cultivo das lavouras. A noite, após um dia de muito trabalho, ainda se punham a preparar algumas tarefas para o dia seguinte.
Ao chegarem em Floraí os agricultores montavam ranchos cobertos com encerados, nas proximidades de uma nascente ou ribeirão. A partir daí contratavam os 'Gatos' para efetuarem a derrubada, primeiro cortavam a capoeira com árvores finas, cipós, arbustos, depois, com machados e trançadeiras derrubavam a madeira mais grossa. As vezes, eram necessários quatro homens para derrubar uma única árvore. O desmatamento dos lotes iniciava-se pelas cabeceiras, entrando lotes adentro, em direção ao manancial hibrico.
Nos solos originados do basalto predominavam a peroba, figueira, cedro-rosa, canela, cabreuva, guajuvinha, marfim, canafistula, gurucaia, pau d'alho e o palmito, entre outros. Nas terras originadas do arenito, a vegetação predominante era a canjerana, guarita, coqueiro, taquara, pindaíva, maçaranduba, ingazeiro, entre outros. Nos primeiros anos não havia serraria que comprasse as madeiras, com isso, logo após a derrubada, ateavam fogo para fazer a queimada. Somente três a quatro anos depois dos primeiros habitantes, chegaram a Floraí as primeiras serrarias, que passaram então a comprar a madeira. Como a matéria-prima era abundante, os serralheiros só compravam toras com mais de 40 cm de diâmetro e davam preferência para a peroba, o cedro, a gurucaia e a canafistula. Praticamente todas as casas erguidas no município eram construídas com essas madeiras.]
No ano de 1958, segundo os pioneiros, praticamente já não havia mata em Floraí, restando apenas algumas capoeiras e pequenas áreas isoladas em algumas propriedades. Naquela época não havia nenhum tipo de preocupação ambiental, sendo que o próprio governo colaborava para que a devastação fosse grande, cobrando imposto de quem não derrubasse a mata. Nem as margens e as proximidades de nascentes, e margens de ribeirões eram poupadas, sendo comum empurrar troncos e galhos para dentro dos cursos d'água.
Se a flora era abundante, a fauna também era muito rica e variada,. Entre os espécimes que aqui viviam predominavam os macacos, veados, catetos, antas, cachorro do mato, quati, onça, capivara, paca; e entre os pássaros, o jacu, a arara, o papagaio entre outros.
Após a derrubada ateava-se fogo quando os galhos e folhas caídos já estavam secos, sendo necessário depois da queimada fazer 'descoivara', um trabalho árduo e estafante, que consistia em amontoar em leiras as galhadas. Depois deste trabalho os agricultores preparavam as covas e semeavam o café, normalmente de sete a oito sementes por cova, com espaçamento de 18 x 18 palmos, a uma profundidade de 40 cm. As sementes começavam a germinar aos 60 dias após a semeadura, e este período coincidia com a época mais quente do ano, tornando-se necessário fazer a cobertura da planta jovem com lascas de madeira retiradas dos troncos das árvores caídas. Todos os pioneiros se emocionaram ao narrar estes detalhes, e foram unânimes em afirmar que esta foi a época mais difícil de suas vidas. Nestes tempos, suas peles ficavam queimadas pelo sol, suas mãos ficavam rachadas e grossas. Muitas mulheres e crianças que também trabalhavam nestas tarefas ficavam doentes, as pessoas emagreciam, e muitas vidas não resistiam e não viveram para ver a transformação extraordinária desta região.
Os agricultores empenhavam praticamente toda sua economia na compra dos lotes, o pouco que sobrava logo chegava ao fim, e como o retorno do cultivo do café era demorado, sem rendimento eles se viam obrigados a comprar mercadorias, insumos, remédios a prazo, com os comerciantes locais, fazendo dívidas que levariam anos para serem pagas.
Os primeiros cafezais produtivos do Município de Floraí datam do ano de 1952, e por quase três decadas seguintes foram responsáveis pelo apogeu do desenvolvimento local. Foi neste período que Floraí recebeu seu maior fluxo migratório, conforme comprovam os dados censitários.
O golpe veio com a geada de 1975, sem os estímulos governamentais de antes, a cafeicultura entrou em queda, incapaz de se recuperar. Começava nesta época um novo processo de profundas mudanças no município e região, alterando completamente o perfil social e econômico regional, com queda significativa da população dos pequenos municípios, e com significativo êxodo rural, passando a região a ser predominantemente urbana, com o aumento da população nos centros maiores como Maringá, Umuarama, Londrina, Paranavaí, Apucarana. Neste período de mudanças, a soja gradativamente passa a ser a principal cultura do município, o que não só permitiu reduzir os efeitos negativos da crise da cafeicultura, como atualmente vem demonstrando sua alta capacidade de adaptação às mudanças e necessidades do mercado mundial. No inicio da atividade, a soja substituiu o café nas áreas mais férteis do município, naqueles solos originados do basalto, enquanto a área ocupada com solos originados do arenito, a cafeicultura foi sendo substituída por diversas outras atividades, como a bovinocultura de leite e corte, a sericicultura, a suinocultura, a avicultura de postura e corte, o plantio de laranja, algodão, milho, mandioca e algumas atividades de subsistência como o cultivo de arroz e feijão.
Gentílico:
Formação Administrativa
Pela Lei nº 2512, de 28 de novembro de 1955, é criado o Município de Floraí, desmembrado do Município de Nova Esperança.
Cidade:
Floraí
Estado:
PR
Prefeito:
EDNA DE LOURDES CARPINE CONTIN [2021]
Gentílico:
floraiense
Área Territorial:
191,133 km²[2019]
População estimada:
4.906 pessoas [2020]
Densidade demográfica:
26,42 hab/km² [2010]
Escolarização :6 a 14 anos
97,0 % [2010]
IDHM: Índice de desenvolvimento humano municipal
0,745 [2010]
Mortalidade infantil:
18,18 óbitos por mil nascidos vivos [2017]
Receitas realizadas:
22.436,08301 R$ (×1000) [2017]
Despesas empenhadas:
19.654,20244 R$ (×1000) [2017]
PIB per capita:
35.608,91 R$ [2018]